O ato de aprender é próprio do ser humano, porém a qualidade e a
quantidade dos novos saberes dependerão muito dos estímulos recebidos e
principalmente da eficácia de cada um deles. Grande parte desses fatores
de influência são originários do meio social, no qual o indivíduo está
inserido, porém há que se considerar limitações físicas ou
predisposições pessoais que cada um carrega em seu próprio código
genético (FONSECA, 2004).
Estima-se que cerca de 85% de tudo o que aprendemos ou assimilamos do
ambiente, bem como o desenvolvimento normal sensorial e motor, dependem
de nossas habilidades visuais nos primeiros seis meses de vida
(ATKINSON, 2000 e SHOR, 1989).
São
vários os transtornos, síndromes e déficits que dificultam a
aprendizagem, dentre os quais estão os distúrbios de aprendizagem
relacionados à visão, que correspondem a uma dificuldade na manutenção
da atenção, compreensão e memorização e à atividade ocular durante a
leitura, levando a um déficit de aprendizado. Tais distúrbios afetam
indivíduos de todas as idades, com inteligência normal ou superior à
média e está relacionada a uma desorganização no processamento cerebral
das informações recebidas pelo sistema visual. O esforço despendido
nesse processamento, torna a leitura mais lenta e segmentada, o que
compromete a velocidade de cognição e a memorização.
Um desses distúrbios de aprendizagem relacionados à visão é a
Síndrome de Irlen (SI), que se caracteriza por dificuldades de
processamento cerebral das informações visuais, causadas pela
sensibilidade a determinados comprimentos de ondas de luz espectral
visível ao olho humano (IRLEN, 1991). Tal disfunção perceptual apresenta
seis manifestações principais: fotossensibilidade (sensibilidade
aumentada a luz),
desfocamento à leitura com distorções visuais,
restrição do campo visual periférico, dor de cabeça,
dificuldade de
adaptação a contrastes e na manutenção da atenção.
Alguns sintomas
físicos recorrentes são:
lacrimejamento,
coceira e ardência ocular,
esfregar os olhos constantemente,
tampar/fazer sombra nos olhos enquanto
lê,
apertar e piscar os olhos excessivamente,
balançar ou tombar a
cabeça, cansaço após 10 a 15 minutos de leitura e leitura na
penumbra.(GUIMARÃES, 2009)
A Síndrome de Irlen pode afetar além da leitura, outras áreas
variadas da vida do indivíduo. A sensibilidade à luz pode causar desde
simples incômodos em determinados ambientes ou circunstâncias, até
prejuízos em habilidades, tais como: prática de esporte com bola,
coordenação motora fina e grossa, habilidades musicais, coordenação
espaço temporal, dentre outras (IRLEN, 1991).
Um
indivíduo mesmo que com a acuidade visual dentro dos padrões de
normalidade (ou seja, enxergando bem) tem chances de ser portador da
síndrome, já que se trata de uma disfunção da percepção e não uma
patologia ligada diretamente aos olhos. Ela está relacionada a déficits
na codificação e decodificação das informações visuais pelo sistema
nervoso central (AMEN, 2004). É necessário um diagnóstico diferencial
por profissionais especializados, uma vez que não pode ser detectada
através de exames oftalmológicos de rotina, nem por testes padronizados
para verificação de dificuldades de aprendizagem (IRLEN, 1991).
De forma simplificada, a Síndrome de Irlen se manifesta da seguinte forma:
POPULAÇÃO AFETADA PELA SÍNDROME DE IRLEN
A população afetada pela Síndrome de Irlen se resume em 12-14% da
população geral, superdotados e bons leitores; 46% de indivíduos com
déficits específicos de aprendizagem e leitura; 33% dos casos de TDA e
TDAH, Dislexia e comportamentais e 55% dos indivíduos com traumatismos
cranianos, concussões, lesão contragolpe, etc (GUIMARÃES, 2009).
O
protocolo de diagnóstico da Síndrome de Irlen é realizado através de
uma abordagem multidisciplinar, com contribuição de diversas áreas,
como: oftalmologia, psicologia, psicopedagogia, fonoaudiologia e terapia
ocupacional. Tal protocolo envolve entrega de questionários
caracterização e habilidades acadêmicas, anamnese, exames oftamológicos
específicos, screening (avaliação para constatação de distorções visuais
no processo de leitura pela metodologia Irlen) e diagnóstico do padrão
de leitura avisando intervenções psicopedagógicas, oftalmológicas,
neurológicas, etc.
O Método Irlen de tratamento oferece aos portadores da Síndrome de
Irlen diminuição da sintomatologia ou em alguns casos sua eliminação
completa. É válido ressaltar que não se trata de intervenção
medicamentosa, nem invasiva, mas sim propõe dois tipos abordagem (IRLEN,
1991):
1. Uso de overlays – lâminas de sobreposição. Objetivos: proporcionar
conforto, nitidez, estabilidade e fluência durante a leitura.
Tratamento proposto pelo atual projeto.
2. Filtros de bloqueio espectral (em óculos ou lentes de contato) – prescrição exclusiva de oftalmologista.
Hoje o método Irlen de tratamento vem sendo utilizado em quarenta e
dois países e em mais de quatro mil instituições de ensino. Nos Estados
Unidos uma resolução adotada em Julho de 2009, durante a Assembléia
Geral de NEA – National Education Association, que agrega
aproximadamente 3 milhões de trabalhadores na área da educação foi
aprovada a proposta de que todos os seus membros sejam informados sobra a
Síndrome de Irlen e seu tratamento. Outros locais aonde os testes já
vem sendo aplicados como de rotina são: Austrália e Reino Unido
(GUIMARÃES, 2009).
No
Brasil, a Síndrome de Irlen é conhecida há apenas quatro anos através
de cursos oferecidos pela Fundação do Hospital de Olhos de Minas Gerais,
em módulos teórico-práticos sobre a metodologia de diagnóstico e
tratamento. A rede de profissionais capacitados é composta por cerca de
530 profissionais de diversas áreas da saúde e educação. Esses
indivíduos capacitados são conhecidos como screeners em 16 estados
brasileiros.
Mais informações encontram- se disponíveis no site: Dislexia de Leitura
Autor: Marina Roberta Vieira Nogueira
Área de atuação: Desenvolvimento de projetos e pesquisas ligadas à Síndrome de Irlen e Síndrome da Deficiência Postural
E-mail: marinaroberta2@gmail.com
Fisioterapeuta graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Pós- graduanda do curso de Neurociências e Psicanálise aplicadas à Educação pela Universidade São Camilo- BH
Screening do Método Irlen
Referências
- ALMADA, A. Síndrome de Irlen: Uma Nova Abordagem para Dificuldades de Aprendizagem. Escola Superior Aberta do Brasil. Pós-graduação Lato Sensu em Psicopedagogia Clínico- Institucional. Vila Velha. E.S., 2009.
- AMEN, D.G. Light in the Brain. Brain in the News Newsletter.30/06/2004
- American Academy of Child and Adolescent Psychiatry (AACAP). Practice parameters for the assessment and treatment of children, adolescents and adults with Attention Deficit/hyperactivity disorder. J Am Acad Adolesc Psychiatry 1997;36 (10 Suppl):85S-121S.
- American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 4th ed. Washington: American Psychiatric Association; 1994.
- ATKINSON, J. The Developing Visual Brain. New York: Oxford University Press, 2000.
- Dislexia de Leitura. Informações e artigos. Disponíveis na Internet em Dislexia de Leitura.
- FONSECA, Vítor. Dificuldades de aprendizagem: Abordagem Neuropsicológica e Psicopedagógica ao Insucesso Escolar. 3ª Edição. Âncora Editora, 2004.
- GUIMARÃES, Márcia; e GUIMARÃES, Ricardo. Palestras ministradas no VI Curso de Dislexia de Leitura da Fundação Hospital de Olhos, realizada em Belo Horizonte, MG, nos dias 9, 10 e 11 de julho de 2009.
- Instituto Irlen Internacional. Informações e Artigos. Disponíveis na Internet em Irlen.
- IRLEN, Helen. Reading by the Colors- Overcoming Dyslexia and Other Reading Disabilities Through the Irlen Method. New York: Avery, 1991 (Updated Edition, New York: Penguin Group 2005)
- RICHMAN, J. Use of Sustained Attetion Task to Determine Children at Risk for Learning Problems. J Am Optom Assoc.; 57, 20-6. 1986.
- SCHOR ,C. ROSENBLOOM, A. e MORGAN, M. Visuomotor Development. In Principles and Practices of Pediatric Optometry. Philadelphia: JB Lippincott, 1989.
- VOHS, K.D., and R. F. BAUMEISTER,2004. Understanding Self- Regulation. Handbook of Self- Regulation: Research, Theory and Applications. ed. R. F. Baumeister e K. D. Vohs. New York: Guilford Press.
- • Sempre procure um médico para diagnosticar doenças, indicar tratamentos e prescrever medicamentos.
- • As informações disponíveis neste blog são de caráter exclusivamente informativo.
- DISPONÍVEL NO SITE : http://bluelogs.net/drexplica/artigos/visao-aprendizagem-e-a-sindrome-de-irlen/
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